RENASCITUDES

quinta-feira, 21 de março de 2013

Irmã mais Velha



Quando nasci,
cinco delas já formavam a família,
que mais tarde totalizou sete filhas, 
uma locomotiva de consistentes vagões.

O lema era as mais novas 
obedecerem às mais velhas;
regulamento levado a sério,
desde os conselhos até os despautérios.

Os vagões, assim eu nos chamava,
descarrilavam de vez em quando,
mas a inspeção do carro-chefe era tão séria, 
trazendo-as de volta na suspensão das férias.

Com o tempo, papai e mamãe envelhecendo,
cada uma tomando o rumo da sua vida,
mas pra casar, divorciar...descarrilar
era preciso aconselhamento da mais antiga.

Levei desvantagem durante muitos anos:
a menor, que veio depois de mim,
chegou com atraso de dezenove anos, e
já não tinha mais graça pôr em prática os meus planos.

Fiz-me irmã mais velha em tempos modernos,
quando a conversa era mais descontraída e liberal.
A saia curta virou moda e o normal
era fazer da vida um vendaval.

Entendi que papai e mamãe 
iriam faltar muito em breve,
apressei-me em busca de colos diversos,
dos quais, até hoje, faço o meu universo.

São todas muito queridas.
Minhas seis irmãs reunidas
me dão luz, força e afeto,
estão sempre por perto.

A maturidade deixou de lado
essa coisa de idade,
fazendo da mais velha irmã
a radical capitã.

Hoje, nossos carros-chefes já partiram sem volta,
mas antes também se modernizaram, 
deixando-nos as mais doces lições
que se sobrepõem à razão:
o que aproxima a família é a voz do coração.

Autoria: Ilka Vieira


Página Revista



... E o que parecia página virada
Reabre um livro em paisagem
Cheiro de mar abrindo estrada
Magia da pele pedindo passagem.

... E como lua chego na contramão
Dançando nua sob as tuas retinas
Faze de mim tua mais bela canção
É tempo de entreabrir as cortinas.

Quando amanhecer no teu gramado
Já serei flor a te fazer sorrir
Já terá a primavera me adotado
Todos os teus sonhos hei de colorir.

... E as páginas que lá atrás ficaram
Vou retocá-las nos tons de hortência
Tanto de ti e de mim elas guardaram
Desbotadas, ainda prezam essência.

Não se aflija em dar-se inteira
Página por página será revista
No outono serás minha cerejeira
No verão serás meu surfista.

De ti, quero os momentos de risos brandos
Quero tua lágrima estancada por mim
Quero teus sussurros e teus comandos
Anunciando nossa paixão como um clarim.

Autoria: Ilka Vieira