RENASCITUDES

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Cárcere do Olhar




Vê o que fizeste do meu olhar!
Prisioneiro do teu ciúme,
limita-se a perambular
sem vida, sem mel, sem lume...

Encarcerado, 

meu olhar gira em torno de ti, 
minhas quatro paredes... 
Violenta-se matando tua sede,
destempera-se, aquietando tua inquietude,
ajoelha-se ao pé do teu olhar rude,
cumpre pena por ter nascido belo,
finge-se de cego, evitando um duelo,
mas não perde a poesia
nem o sonho de liberdade
que a alma esconde sem a grade.

Autoria: Ilka Vieira

Felicidade



Felicidade é...

Compartilhar sorrisos matutinos
que a poética noite escrevera.
Compor e cantar seu próprio hino
que a dor egoísta absorvera. 

Lançar-se independente da sorte
atingindo o ponto mais alto do desejo.
Liberar-se para o abraço mais forte
adoçando a alma na explosão do beijo.

Desfolhar-se como árvore
desprendida de vaidade.
Entregar-se ao tempo da natureza,
sem viver os receios da saudade.

Entrelaçar-se aos "de bem com a vida",
estimular os reprimidos, apontando-lhes saída.
Amar sem contar os dias... as partidas... 
os méritos.... as medidas... 

Felicidade é viver intensamente
levando em sua enchente,
consciente,
a pessoa que somos.

Autoria: Ilka Vieira

domingo, 29 de setembro de 2013

Ave Encabulada




Há uma ave encabulada em minha casa.
Esconde-se atrás das cortinas,
banha-se sem bater as asas,
retém seus sonhos e restringe a vida,
voa apática pelas beiradas...
rubra,
carente,
tonta,
fechando o canto,
buscando a dose certa do encanto
para o despertar da sua ousadia.


Autoria: Ilka Vieira

Incerteza




Em aceno ambivalente,
anuncio veemente
o apagar da minha luz...


Sem tempo de temperar a vida,
risco lembranças feridas...
perdoo meu último dissabor...


Impulsiono-me decidida,
mas temendo a trágica partida,
rogo a Deus mais uma chance.


Corpo inteiro já doado,
por ímpeto desgovernado,
corro o risco de um não...


Faço então uma oração...
Admito a covardia
e sinto meus pés de volta ao chão.


Autoria: Ilka Vieira

Paralelo da Alma



Ainda que me soltando das mãos, 
faz-se interditada a liberdade, 
que oculta a personagem 
predestinada à paixão. 

Sangro no pensamento... 
Não entendes meu tormento, 
procurando-me tão distante, 
quando nunca me ausentei. 

Cada vez que me fechei, inexpressiva, 
tentava alcançar tua interrogativa,
sem desalgemar meu coração do teu, 
sem desproteger teu olhar do meu. 

Convido-te a cauterizar 
os preceitos, prefácios e temas, 
sentindo a morte e a vida 
como o cenário de um poema.

Autoria: Ilka Vieira

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Flores




As flores me lembram ingenuidade...
ausência de maldade,
festival de sorrisos gratuitos,
sonhos curtos,
por tempo que só um jardim pode prever.

As flores adormecem meus generais...
emprestam-me esperanças,
sem saberem que lhes furto
os segredos sensuais.

Autoria: Ilka Vieira

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Fado




Que entre o fado pela minha dor ouvida
Que me conduza ao sonho rompido,
belaz, mas covarde na minha ida,
desalgemando promessas do comprometido.


Ah, quantas noites de recolhimento
em solidão, que tormento!
Aproximei-me do cais...
Ouvi o fado traçando meu destino,
cantando os meus tristes ais.


Fatalmente como o fado,
embriaguei-me de passado,
deixei chorar meu coração,
ancorado à dévia paixão.


Autoria: Ilka Vieira






 

Traçado de Opções





Estou sujeita à mim mesma...
Se quero recomeçar e a estrada é densa,
melhor arregaçar as mangas,
abater a indiferença...


Estou sujeita às minhas inseguranças...
Se há o que definir,
se é preciso retroceder
se ainda há o que me dizer,
devo me permitir...


Estou sujeita às minhas derrotas...
Cara a cara com a vencedora ,
reconhecer-me perdedora,
entregar a minha espada
sem sequer culpar a vida.


Estou sujeita aos meus demônios...
Conviver ou enfrentá-los,
revestir e transformá-los,
refazer meu santuário...


Estou sujeita aos meus gritos...
Ensurdecer minhas queixas,
impor minha solidez,
ou me calar de vez...


Autoria: Ilka Vieira

Um Barco sem Rumo




Já não te dou a segurança de um porto
e também não direciono o teu destino.
És um barco sem corda,
sem remo,
sem flores,
sem brilho,
sem mim.


Um barco flagelado,
sem audácia,
sem vida,
sem resgate.


Hoje,
és apenas um barco sem rumo,
acalento do nada,
inquilino do mar.


Autoria: Ilka Vieira

Descrevo-me...




Descrevo-me cautelosamente...
em pérolas e criaturas,
lapidando-me contra amarguras,
sentenciando meus pecados,
retocando o coração desbotado.


Descrevo-me sem olvidar...
como menina poeta,
resvalando pelo colorido da infância,
brincando com o que a vida me escondia,
poetando por idolatria... Sem analogia.


Descrevo-me em fantasia...
descobrindo temperos da paixão,
soltando o freio,
perdendo-me em devaneio,
desprotegendo o coração.


Descrevo-me reincidente...
apostando no amor,
traçando contos de fadas,
fui embarcada,
terminei incinerada,
paisagem sem cor.


Descrevo-me reflexiva...
sobrevivente de mim,
indeclinável ao amor,
refazendo meu folhetim.


Descrevo-me em poesia...
insistindo na alegria,
mas meus versos aplaudidos
vêm da dura melancolia.


Autoria: Ilka Vieira

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Alma Hospedada



Não queiras entender o meu olhar,
ele será ousado em despir
a tua alma hospedada,
sem compromissos, 
com vindas e idas
que sai rindo do que deixou,
mas volta...
volta sempre querendo mais.

Autoria: Ilka Vieira