RENASCITUDES

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fica, Companheira!


Fica mais um pouco, companheira,
ainda não vás, dilui minha amargura...
Ajuda-me a reciclar da lixeira
cacos da minha estrutura.

Abraça-me, companheira fiel,
dá-me teu ombro como colo...
Faze-me ouvir a força de Ravel,
sentir meus pés de volta ao solo.

Empresta-me, companheira, tua face sorridente,
preciso esconder a dor transparente...
Vesti-la de tarde festiva,
apresentá-la na dança concessiva.

Convence-me por companheirismo,
dize-me que trocas comigo de vida,
sem que a minha te leve ao abismo,
até que a tua feche a minha ferida.

Autoria: Ilka Vieira

De Alma, Carne e Osso


A auto defesa ensina a lidar com as brumas assombrosas do amor:
a gente cai,
a gente levanta,
a gente flutua,
a gente volta...

Ainda assim, vale aventurar:
aceleram os batimentos...
reduzem,
quase param...
param,
mas são revertidos
porque a vida continua...

Autoria: Ilka Vieira

domingo, 28 de outubro de 2012

Abraços



Hoje...
Eu quis um abraço corajoso,
daqueles que, quando se encostam ao nosso peito,
não recuam por mais que temam a nossa fragilidade.

Hoje...
Precisei de um abraço falante,
daqueles que se inquietam através da voz
quando se preocupam com o nosso silêncio.

Hoje...
Sonhei com um abraço paternal,
daqueles que nem as atividades do cotidiano
estimulam a pressa.

Hoje...
Desejei um abraço maternal,
daqueles que nem o pior pecado cometido
se envergonharia de acolher.

Hoje...
Esperei por um abraço do meu chefe,
daqueles que não escolhem o dia do ano
para prestar seu reconhecimento.

Hoje...
Perdi um abraço raro,
como aqueles espontâneos
que a criança dá e não repete.

Hoje...
Chorei por um abraço extraviado,
daqueles que passam da hora e,
se regressam, perdem a emoção...
... não chegam mais ao coração.

Hoje...
Bateu à minha porta
um abraço necessitado,
daqueles com os quais
um cão faminto supre a sua fome.

Hoje...
Pedi um abraço a uma mulher violentada,
daqueles em que tomamos a dor
de quem sofre por desamor.

Hoje...
Revivi o abraço de um filho partindo,
daqueles que a alma vai junto sem desabraçar.

Hoje...
Contei com um abraço de família,
daqueles que nos esperam,
independente da plataforma.

Hoje...
Escolhi um estranho e pedi-lhe um abraço,
daqueles que, se não fosse o meu impulso,
a vida não me facilitaria recebê-lo.

Hoje...
Plantei um abraço amigo, daqueles que,
independente da estação do ano,
brotam e nos permitem uma colheita
sem cobranças e prejuízos.

Hoje...
Quitei a dívida de um abraço romântico,
daqueles que, ao se despedirem,
deixam a conta parcelada,
mas a falência de emoções prometida... programada...

Hoje...
Consegui de mim um verdadeiro abraço,
daqueles que a maturidade nos reserva...
que reúne num só abraço sonhado
todos os abraços merecidos;
na falta de todos os abraços ignorados,
um único abraço compreendido.

Autoria: Ilka Vieira

Saudade



Quase passo pela saudade sem a perceber, mas não! Não é justo deixar de notar esse sentimento tão forte, por vezes gostoso, por outras doloroso, chegando a tomar as rédeas das nossas atitudes, lambuzar as nossas vidas, partir em pedaços as estruturas que pareciam tão fortalecidas, tirar nossos pés do chão... 
Saudade faz coisas tão inexplicáveis que merece maior atenção.

Eu já Sofri de Saudade dando murros nas sombras. Já sofri de saudade por alguém que não poderia voltar a ver. Já sofri de saudade boba, aquela cuja ausência se faz por apenas um dia. Já sofri de saudade por quem esteve encostado no meu corpo, mas não soube se fazer presente. Já sofri de saudade pequena, aquela que logo se reconhece não valer a pena.

Eu já Sorri de Saudade contornando boas lembranças. Já sorri de saudade da infância, aquela que só a doçura da criança escreve para jamais esquecer. Já sorri de saudade pensando na minha ingenuidade do primeiro amor. Já sorri de saudade das histórias de mentirinhas do meu avô. Já sorri de saudade das amiguinhas que guardaram meus primeiros segredinhos, não porque souberam guardar segredos para a vida toda, mas porque a vida toda não nos manteve amiguinhas. Já sorri de saudade dos sonhos que pensei tornar realidade, mas a realidade é tão dura que envelhece os sonhos sem lhes dar vida e personalidade.

Eu já Morri de Saudade de mim, aquela saudade que leva o melhor da gente, extravia... 

Autoria: Ilka Vieira

Lição de Sol



Acabara de mudar-me da zona sul do Rio de Janeiro para a Tijuca, bairro da zona norte, tão ameaçado pela violência carioca quanto toda a cidade. A gente vai contrapesando a idade, os conceitos, as carências e até as praticidades da fase em que nos situamos e resolvemos fazer mudanças. É certo que, apesar disso, o medo continua em nós, não deixamos de temer tudo, quase levamos uma "subvida"!

     Aluguei um apartamento agradável, com vista linear para os mais diversos prédios residenciais; vizinhos era o que não me faltava, desconhecidos, é claro! Por curiosidade ou fator ambientação, começava a especular, através das janelas, quem eram eles: se mal-encarados, curiosos, harmoniosos, desocupados, insones, tarados... O fato é que todas as minhas janelas eram muito indiscretas, tanto para eles, quanto para mim.

    No entanto, a varanda, por ser mais aberta, dava-me a sensação de que poderia disfarçar olhando para os lados, caso fosse surpreendida por algum deles. Afinal, eu também não gostaria de ser especulada!
Diariamente, antes de sair para o trabalho, dirigia-me para lá, onde, de pé, ingeria o meu rápido cafezinho. O playground, logo abaixo da varanda, até que oferecia uma bonita paisagem: árvores de meia idade, plantas bem cuidadas, silêncio (pela ausência das crianças que provavelmente ainda dormiam), e passarinhos inspirando-me a sonhar!

     Um desses dias, ao erguer um pouco a cabeça, meu olhar transpôs a vidraça de uma das janelas do apartamento em frente, deixando-me ver uma pilha de pastas semelhantes a processos normalmente estudados por advogados, juízes etc. E assim, começava eu a estabelecer um marco de identificação dos meus vizinhos, com base nos elementos que cada um deles me possibilitava captar. Tornou-se agradável a minha rotina matinal do cafezinho na varanda, principalmente por eu já acompanhar a rotina dos vizinhos com menos constrangimento e mais ousadia.

     Certa manhã, conheci o dono da pilha de processos: avistei-o sentado, lendo... , lendo... Era exatamente como o imaginara: idoso, compenetrado e limpinho. Sentava-se diante das pastas, os cabelos molhados e penteados, como se tivesse acabado de tomar banho. Percebi que havia sido colada na sua janela uma folha branca na qual fora desenhado um grande sol... muito colorido. Esse fato evidentemente aumentou a minha curiosidade; a cada dia eu constatava que isso tinha que ter algum fundamento, pois o sol nem sempre era colocado na vidraça, mas a minha ousadia cobrava que o fosse, sem que o velhinho o soubesse! Quando eu saía para o trabalho sem ter visto o desenho do sol na vidraça ficava quase transtornada, porque também não o veria à noite: quando eu voltasse para casa, provavelmente já encontraria aquele senhor dormindo, luzes apagadas.

     Uma ocasião, consegui vê-lo colocando o desenho, o que era feito como um ritual: colava-o e ali permanecia olhando-o por alguns minutinhos. Às vezes, sentava-se diante dos processos, mas o sol não era colado na vidraça...Por que não???

     Num domingo ensolarado, lá estava o velhinho compenetrado na sua leitura dos processos, mas o sol não estava colado na vidraça. Foi aí que constatei o quanto sou audaciosa: chamei-o por um "psiu" insistente; quando o velhinho me olhou apreensivo, perguntei-lhe, gritando (talvez não ouvisse bem):
     - Cadê o sol ; ...o desenho do sol ?
     Ele me respondeu, sem gritar, mas de forma que eu o ouvisse:
     - Eu a estou ouvindo muito bem e a estou entendendo, mas hoje não há sol!!
    Então apontei para o sol que iluminava aquela manhã, provando-lhe que não era verdade. O velhinho acenou negativamente com o dedo e retrucou:
     - O sol está dentro de cada um de nós; procure o seu, mas saiba lidar com ele quando estiver apagado!!!
     Sorri-lhe apenas e me retirei da varanda, buscando o meu sol, que nesse dia, por acaso, estava enfermo...; talvez por isso, inconscientemente, estivesse querendo ver o sol do velhinho!

     Passei muitos dias sem me aproximar da varanda, até que tomei coragem e procurei o sol do velhinho. Mas, dessa vez meu olhar atravessou a vidraça e...fiquei triste: o apartamento estava vazio. Nem pastas, nem velhinho, nem sol...
     Fiquei tão triste por ele ter-se mudado dali...Será que ele se incomodou com a minha ousadia? Será que preferiu sair de perto de quem não sentia o seu próprio Sol ? Olhei por alguns dias aquele espaço vazio com imensa tristeza.

    Aproximadamente um mês depois, indaguei sobre ele ao porteiro do prédio onde morava; fui informada de que havia falecido. O SOL dele permaneceu na minha mente, colado à vidraça, enquanto que o meu aplicou-me uma lição para toda a vida:

     Ainda que dentro de mim faça escuro, precisarei renascer iluminada!!!

Autoria: Ilka Vieira

Alimento da Esperança



Era 2ª feira, verão carioca, e dirigia-me ao trabalho. Pensava no grande número de pessoas que estava de férias, aproveitando a praia, caminhadas com amigos, enfim, tudo que eu gostaria de estar fazendo...
     O trânsito congestionado contribuía para o meu mau humor, mas que jeito?
     Parei no sinal e, como carioca traumatizada, mantinha os vidros do carro fechado, o que não impedia assaltos, mas sentia-me enganosamente segura.
    Percebi que algumas crianças de rua aproximavam-se dos carros parados pedindo dinheiro, coisa habitual. Com o narizinho espremido no vidro da minha janela, assustei-me com um olhar ingênuo de uma menina; fitava-me como 

súplica. Perguntei-me: - Como pode um olhar se comunicar com tamanha força e conseguir persuadir mais do que palavras?

     Senti um desejo forte de abrir o vidro do carro e, com todo receio de que por trás daquele encantador olhar alguém pudesse surgir e me atingir, não resisti e o fiz.
    As mãozinhas, automaticamente levantaram-se, exibindo-me um desenho nitidamente infantil; ela balbuciou uma frase pedinte...interrogativa:
     - Você pode comprar o meu desenho?
     Evidentemente, mais do que no desenho, meus olhos fixaram-se nos olhos da menina e perguntei-lhe sorrindo: - Quem é você?
     Ela me respondeu também sorrindo: - Sou Mariana!
     - E esse desenho bonito, por que quer vendê-lo?
     Ela parecia buscar uma resposta mágica, afinal sentia que estava quase atingindo seu objetivo; não poderia perder tal oportunidade e respondeu-me: - Para comprar um alimento!
     A expectativa da minha resposta crescia no olhar da menina; o medo de que eu a decepcionasse chegava a quase esconder o sorriso que ela se empenhava em manter no rostinho com grande esforço muscular facial.
     Ouvi buzinas insistentes acusando-me de congestionar ainda mais o trânsito, mas não conseguia engrenar a marcha do carro e sair do local; algo me detinha... e era o olhar da menina, dizendo-me muito mais do que o pagamento 

pelo desenho poderia me transmitir. Abri a porta do carro e fiz sinal negativo com o dedo polegar para o motorista que se encontrava atrás de mim; os demais entenderam que o meu carro estava enguiçado.

     A menina agarrou-se ao espelho retrovisor do meu carro e ficou observando cada uma das minhas reações. Felizmente, meu carro estava posicionado próximo ao meio fio e pude me acalmar, retomando a conversa com a menina:

     - ...Mas Mariana, então você desenha e vende seus desenhos?

     - Vendo!
     - E por quanto os vende; qual o preço desse?
     - Ué, o preço do alimento!
     - ...Mas quanto custa esse alimento?
     - Ué, o que você pode pagar pelo desenho!
     - Você desenha e vende esses desenhos todos os dias?
     - Não!
     - Mas você precisa de alimento todos os dia, não é mesmo?
     - É, preciso, mas nem todos os dias eu consigo desenhar!
     - E quando você não consegue desenhar, de que se alimenta?
     - Ah, me alimento de esperança!!!
     - Coloquei na mão da menina todo o dinheiro de que dispunha (e que não era pouco), mas insuficiente para pagar pelo aprendizado que me concedera!

Autoria: Ilka Vieira

Intencionalmente...



Quando entrei no teu imenso jardim, 
eu quis ser a terra orgânica e inclusiva...
o adubo nutriente, foi pra isso que eu vim,
quis ser as sementes da tua expectativa.

Eu quis ser a chuva que alimenta o teu solo, 
o sol  que dá alegria à manhã  indecisa...
Quis ser o arvoredo, sob ele ter o teu colo
sentindo o frescor poético que nos traz a brisa.

Eu quis ser,  entre tuas flores cada uma delas
Quis ser margarida, rosa branca, carmim...
Pensei em ser tulipas, violetas, rosas amarelas,
talvez gardênia, mas o teu amor me fez jasmim.

Quando entrei no teu jardim tão ressecado
eu quis ser a rega que te alivia do calor;
quis fazer contigo um jardim sem "mau olhado",
quis renascer nele como tua última flor.

Autoria: Ilka Vieira

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Efêmero



Ao longo dos braços meus, em tardes chuvosas
reservei pra ti o meu abraço mais silencioso.
As palavras entre nós envelheceram dolorosas
gritando pelo desgaste de um tempo nebuloso.

Meu mundo perfumado esteve à tua espera,
mas a pior ausência é a presença distante.
Nem retratos antigos nos dirão da primavera,
foram todos queimados pela ira resultante.

Sei que há um novo barco ansioso por ti.
Lá fora ele acena e impulsiona a pressa...
Nem há gritos pra proclamar a dor que senti,
nem há forças pra citar uma falsa promessa.

Agora, o vento queria arrumar as folhas caídas...
Não há tempo, o inverno mostra toda a lama. 
O nosso abismo se abre nas horas vencidas,
meu choro sai pela fenda do lençol na cama.

Autoria: Ilka Vieira

O Porto





Mágica cidade do Porto, abrigo pra se renascer!
Terra com alma de mãe, cheiro de poesia.
Silêncio matinal chamando o entardecer,
Sorri o Porto afagando a melancolia.

Não há como vendar os olhares solidários
Entre o Porto e Gaia num abraço à distância.
E o Douro guardando nos seus fiéis cenários
Abundantes lágrimas nos rigores da observância.

Tão perto e tão sozinhos, Gaia e o Porto se acenam...
Compartilham chuva, sol, segredos de tantas luas...
E, emoldurados pela plateia, eles contracenam
Histórias de povo que se revelam nas ruas...

E o Porto, ali colorindo janelas num coradouro,
Produz as notas de um fado na lembrança,
Banha-se de estímulo e vida no rio Douro
E doa à sua plateia a fé da bonança.

Autoria: Ilka Vieira






segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Minha Outra Face


Inquieta sombra trago pendurada
reverso do que aprecio e exponho.
Somos um só corpo ligado a duas almas:
uma guardada pela agonia oportunista,
a outra resgatada pela fantasia contestável.

Somos duas em uma só plataforma:
uma partindo, a outra estacionada,
adormecida,
proveta de sonhos,
flor artesanal...

Alojamo-nos no mesmo barco;
enquanto uma rema,
a outra mergulha e desapropria-se.

Olhamos na mesma direção,
mas damos formas diferentes
a uma única imagem:
uma encarcera a lua e a outra
faz sorrir uma lua encarcerada.

Formamo-nos no mesmo útero e
por conseguinte, 
afagadas pela mesma mão.
Buscamos vidas na mesma vida,
enquanto uma vive intensamente,
a outra finge que o faz.

Autoria: Ilka Vieira

Praga


Quando eu me deitar em sono eterno
Segura o tempo e sonha por mim
Deixa secar os lençois do inverno
Brinca na grama e preserva o capim.

A minha sombra desenhada na parede
Vai te pedir o sol de todos os dias
Vai sorrir com o embalo de uma rede
Vai trazer de volta nossas melodias.

Não escolha a palavra certa e bonita
Alinha o teu silencio franco do olhar
Qualquer que seja a frase contradita
Será bem guardada no nosso altar.

Por fim, sonha comigo, sonha por nós
Faz um sonho se vestir de primaveras
Colhe as flores e com elas fica a sós
E como praga estarei entre as heras. 

Autoria: Ilka Vieira

domingo, 21 de outubro de 2012

Minha Cor de Rosa


Preciso resgatar a minha Cor-de-Rosa!
Perdi-a no decorrer da vida
Tornei-me imbatível e nebulosa,
Criando-me fragilmente fortalecida.

Fui trancando o glamour
Abrindo o olhar valente
Apagando meu abajour,
Fiz-me mulher inevidente.

Deixando a jarra vazia sobre a mesa,
Flores ao relento pediam-me moradia.
Saindo das paixões à francesa,
Perdi a noção de companhia.

Desmarcando parcerias de dança,
Esqueci como dançar...
O silêncio foi marcando o descompasso...
Não dancei, nem vi o dia raiar.

Hoje, a farda impecável
Faz-se mais feia do que a roupa desbotada.
O dedo indicador ordenável
Impulsiona minha alma delicada.

Agora entendo:
Vão-se as responsabilidades exageradas...
De nada vale a vida ou vale quase nada,
Se a minha cor-mulher está tão recolhida
Se a minha cor-de-rosa está descolorida...

Que venha o meu pôr-de-cor,
Colorirei...
Que caiam as pétalas,
Brotarei, sei que brotarei!

Autoria: Ilka Vieira

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Último Ato


... E o peito embutiu o som em si
A melodia findou chorando em dó
Era tarde, passou a lua, não a vi
Borrei de red o blue, noite em pó.

Tic-tac , pêndulo entre mim e o vão
Paisagens de outono traçando destino
Despi a alma em voto de comunhão
Corpo presente sem tom de figurino.

Já havia cinzas, mas acendi as velas
No passo lento minha estrela apagou
Criei por mim minhas próprias celas
Impossível fugir da morte se ela chegou.

Beijou-me a vida, despediu-se de mim
Como num voo brando soltei a mão
Senti a suave cobertura de jasmim
E no último ato afaguei meu coração.

Autoria: Ilka Vieira

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Desenlace


Quando descolei meu corpo do teu
Não vi o que deixara para trás
Nem pensei nos impulsos  do meu eu
Joguei tudo fora, já não queria mais.

E as sombras somem e regressam
Sinalizando que a paixão nada é
Tombei do alto e hoje me atravessam
Lembranças extravasadas pela chaminé.

Não venhas não, ilusão vencida!
É tarde e já furtei tua hora
Mas de joelhos e arrependida
Parto de alma vazia, mas que chora...

Autoria: Ilka Vieira