RENASCITUDES

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Urca



Urca de amendoeiras olhando o mundo
Urca de brisa fresca, corujas e cigarras...
Urca de barcos em repouso profundo
Urca de manhãs soltando suas amarras.

Urca de sol e madrugadas festivas

Passado de luvas, saltos dourados
Chuvas e paixões evasivas
Urca de gravatas... adidos militares
Moedas movimentando bilhares.

Urca de estratégias políticas

De projetos culturais
De janelas analíticas
De roupas sem varais.

Urca de passeio solitário

De rocha e sal
De isolamento inquebrável
De mar angelical.

Urca...

Avenida São Sebastião
Fortaleza São João
Nossa Senhora do Brasil
São Pedro do Mar...
Histórias de bar em bar...

Urca...

sobrenome CALMARIA...
Mística, bela, bélica... 
Convite à poesia...
Furna onde me esquecer,
morrer e renascer...

Urca, a vida em solilóquio...


Autoria: Ilka Vieira

O Piano


A lua perpassava
as vidraças da varanda,
pelo desejo irresistível
de ouvir-te tocar.

Meus olhos perdiam-se,
delineando teus dedos
e se rendiam à felicidade
daquele momento.

A voz vinha do teu semblante...
os aplausos, do meu sorriso...
as respostas, dos teus gestos...
as letras, do nosso silêncio...

Hoje, a lua não ousa perpassar...
Não tens o piano para tocar
e eu não tenho o que aplaudir.


Autoria: Ilka Vieira

Parceiras Feridas



Preciso curativar minha alma!
Plasma...
Lágrimas... correm e escorrem...
Atiramo-nos por precipícios,
defendemo-nos de fantasmas ingentes.

Queima-se indefesa a minha alma,
queima-me por afoiteza.
Acaba sempre por incendiar perspectivas,
atrapalha-se e invalida saídas,
inviabiliza socorros,
enlouquece!

Pobre alma, pobre de mim...
Tão dependentes,
tão carentes,
mas certamente
magistrais na dor.


Autoria: Ilka Vieira

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Contrapartida



Não me digas que já é tarde.
Guardei-me para o teu regresso
Em mim, a força do sol ainda arde,
Não deixo que a brisa sopre, confesso!

Com tempo, fui talhando-me com maestria.
Maturei, retocando princípios e passados;
Cada traço, iluminado pela luz da poesia,
Despiu de dor os sonhos mais delicados.

Equilibrei, nivelando o medo com a bravura,
Hora protegendo-me no calor do teu abraço,
Hora lutando contra minha própria loucura,
Mas recolhendo vestígios em estilhaço.

Suavizei minha pele com água do lago.
Perfumei-a com essência do puro jasmim.
Lembrando as nuanças do teu afago,
Compus melodia para o nosso festim.

Selei meu ciúme emprestando tua paisagem;
Sem céu, sem mar, preparei a terra,
Há de chover, brotar, não é visagem,
Algumas nuvens já dançam lá na serra.

Eis-me aqui inteira após tantos anos;
Refeita, serena, renascida, enfim.
Meu olhar acena para o teu sem danos...
Mas tu, o que guardaste pra mim?

Autoria: Ilka Vieira

Morrer ou Refazer?



Ah, se esta terra fosse minha
Eu mandava replantar
O verde que a humanidade daninha
Matou sem nenhum pesar.

Se esta estrada fosse minha
Cercada de terra e silêncio
Se pudesse a mantinha
Bastando-me o som Florêncio.

E estas águas eram tão nossas...
Seguindo como procissão
Os lagos viraram fossas
Dói-nos a seca do chão.

Onde estão os nossos bichos
Que Deus nos deu de riqueza?
Mente humana e seus caprichos
Tiram vidas com frieza.

Quem houve falar de paz
Pensa em lendas do passado
Amor a terra nunca mais
E o povo quase castigado.

Só em sonhos sinto a glória
É preciso morrer pra corrigir
Reescrever a história
Do que estamos a destruir.

Autoria: Ilka Vieira