RENASCITUDES

domingo, 9 de setembro de 2012

Similitude



Quem tem a sábia forma dos conceitos
Dirá se há subversão nos meus valores
Eu sei que o sonho nasce e fica nos leitos
Já meus desejos não ficam só nas cores

Se sonho, conto a vida perdendo-a nos dedos...

Se desejo, tenho dedos e posso ganhar a vida...
Se sonho, sinto que quero, mas... e meus medos?
Se desejo, quero e a barreira será vencida!

Sonhar é desejar coisas impossíveis

É sentir o voo sem precisar voar
Desejar é tornar os sonhos acessíveis
É sonhar com a razão sem levitar

Mas eu também sonho, vejo fadas...

Estrelas me beijam e viro luar bonito
Já fui príncipe nas minhas cavalgadas
Fui princesa aflita e fui meu próprio rito.

Autoria: Ilka Vieira

sábado, 8 de setembro de 2012

Renascimento de Atitudes



O poeta é o ser que mais necessita de renovação. Cansa-se com facilidade do cotidiano, mas através dele adquire passaportes para as mais profundas paisagens.

O poeta chama de alma a essência que salvaguarda suas emoções, o alicerce que sustenta sua vida e a eternidade que sobrevive à sua morte.

O poeta deixa deslizar a pena através da folha, transparecendo em cenário o renascimento de atitudes da alma.


Ilka Vieira

Coração Múltiplo



Tenho um coração andarilho...
Colhedor de histórias recicladas,
fere-se com espinhos de flores não regadas,
rega flores de almas abandonadas.

Tenho um coração sentenciado...
Cumpridor da pena estabelecida,
especula pelas grades
remorsos de vidas bandidas.

Tenho um coração varredor...
Sai tirando da frente 
tudo que o desmente...
faz dessa loucura sua impostura.

Tenho um coração hospedeiro...
Abre a porta sem enxergar a alma,
mas nem um tiro certeiro
o faz perder a calma.

Tenho um coração complicado...
De dia, sobrevive ao amor;
de noite, morre embriagado.

Autoria: Ilka Vieira

Momento Extraviado



Um clima intruso 
coloca-se entre nós. 
O sentido digressivo 
conturba nossas emoções. 
Apagam-se as nossas velas! 

Faz-se necessário o fuste do amor, 
mas este parece quebrado, 
talvez torcido ou inexistente. 
Conversar, ainda que conciso, 
seria inconcludente. 

Mas tudo ia tão bem... 
e agora, nem sequer nos olhamos! 
Estranhezas paralelas 
congelam nosso lençol 
e interrompem a intimidade. 

Nossas pernas procuram a saída 
Querem tornar-se asas...
No entanto, a porta que pode ser aberta 
não é tocada, 
torna-se inviabilizada. 
Queremos ficar ali! 

Faz-se necessário o dia seguinte... 
O tempo que decida por nós! 
Dormir e acordar é cômodo. 
Acordar e prosseguir é simples. 
Mágico é desvendar! 

Autoria: Ilka Vieira

Deportando o Passado



Misteriosa faz-se a soma 
de tudo que se foi 
e permanece... 
e incomoda 
como se fosse o presente 
tão latente de uma dor. 

Ainda que deportado, 
faz-se passado porque 
não é presente, 
mas leva os sonhos... 
leva-nos tudo... 
nos leva, 
mas fica... 
se guarda 
e nos reserva a tortura 
de conviver com ele, 
independente da nossa vontade.

Autoria: Ilka Vieira

Conflitos com a Alma


Repousei a alma
pelo tempo da espera...
Perdi as horas... perdi-me...

Despertei a alma
em tempo de desassossego...
Perdi a noção... perdi o chão...

Lavei a alma
com águas da franqueza...
sem delicadeza, perdi a razão.


Autoria: Ilka Vieira

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Transportadores da Saudade


Eles rabiscam a dor até rachá-la
como se fosse impulsivo
o domínio de enterrá-la
na solução de extingui-la.

Resmudam paisagens, melodias, 

metas, costumes, fantasias...
Mas a saudade trelente insiste,
perpetuando-os tristes.

Oh, dor intransigente,

acompanhante inconveniente,
sem aviso, pausa e compaixão!

Deixa-os ver tuas longas estradas

ilusoriamente embelezadas,
mostrando-lhes saídas,
secretas bifurcações.

Ainda que a solução seja o tempo,

favoreça-os com a virada do vento,
no plantio de uma nova dor.

Autoria: Ilka Vieira