RENASCITUDES

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Minha Biografia Poética



Nasce a poesia!
Como todo recém-nato,
precisará de um espaço aconchegante
para se desenvolver...
ousadia para se exibir...
brilho próprio para se destacar...
sonhos para se motivar...
críticas para se corrigir...

A poesia tem luz própria; além de iluminar a inspiração, estimula a mão que cria a dança das letras, através de melodias da alma.

Escrever é uma das coisas que não tenho medo de recomeçar. Escrever libertou-me de tudo. Aprendi a abrir as asas e estendê-las ao próximo, ao distante e... a mim mesma. Não consigo escrever muito sobre a vida de alguém, porque sempre procuro semelhanças com a minha própria vida. Quando escrevo, gosto de mudar repentinamente de um assunto para outro, e depois retornar a cada um deles com maior ênfase.

Costumo dar cor às coisas que não têm cor, poesia ao que está morto e chances à hora final. Já consegui me dar nova vida e sinto que, quando quero, dou nova forma ao meu corpo, novos traços à minha face e... me recomponho. Sempre tive medo de dormir sozinha. Hoje, quando durmo com alguém, conscientizo-me de que estou, antes de tudo, dormindo comigo mesma. Faço-me duas até me fortalecer. 

Não tenho nenhuma saudade de mim, porque o que fui não quero ser mais. Desperdicei-me por muitos períodos, mas não me cobro, sou livre para falhar. Nos momentos de justificativa, seria bom que substituíssemos as palavras pelos abraços. Os abraços são mais expressivos, por mais sufocantes que se comportem.

Hoje, percebo os fatos antes de entendê-los, e quando eles tentam se expor a mim, já me esclareci. Não sei se é do amor que sinto falta ou do desejo de partilhar a minha vida. Conflitos, descobertas... tudo e sempre sozinha. Esse foi um lado da vida perdido, irreparável, talvez porque o desejo da partilha fosse sempre o meu lado verdadeiro, mais real, mais desesperado, e por isso o tenha negado tanto. Nem mesmo a minha ilimitada carência foi partilhada, nem a deixei ser pressentida conscientemente.

Agora, tenho certeza de que posso dividir a minha vida entre o antes e o depois. Havia esquecido o poder que a dor tem de fazer renascer. Por todo o tempo transcorrido, coloquei-me do lado de fora, registrando, minuto a minuto, cotidianamente; sensações não vividas.

Fui retirada de mim mesma a fórceps, a cabeça esmagada, o corpo massacrado. Não gritei ao nascer e prendi na garganta meu momento de morrer.

E agora... vivo, vivo muito!!!

Autoria: Ilka Vieira

3 comentários:

  1. Viva e continue sempre presente nas nossas vidas.
    bjs,
    TT D´Oliveira

    ResponderExcluir
  2. Jamais li uma biografia escrita de forma tão notável! Meus aplausos à escritora Ilka Vieira.
    Abraços,
    Joe Vergueiro

    ResponderExcluir