RENASCITUDES

domingo, 28 de outubro de 2012

Abraços



Hoje...
Eu quis um abraço corajoso,
daqueles que, quando se encostam ao nosso peito,
não recuam por mais que temam a nossa fragilidade.

Hoje...
Precisei de um abraço falante,
daqueles que se inquietam através da voz
quando se preocupam com o nosso silêncio.

Hoje...
Sonhei com um abraço paternal,
daqueles que nem as atividades do cotidiano
estimulam a pressa.

Hoje...
Desejei um abraço maternal,
daqueles que nem o pior pecado cometido
se envergonharia de acolher.

Hoje...
Esperei por um abraço do meu chefe,
daqueles que não escolhem o dia do ano
para prestar seu reconhecimento.

Hoje...
Perdi um abraço raro,
como aqueles espontâneos
que a criança dá e não repete.

Hoje...
Chorei por um abraço extraviado,
daqueles que passam da hora e,
se regressam, perdem a emoção...
... não chegam mais ao coração.

Hoje...
Bateu à minha porta
um abraço necessitado,
daqueles com os quais
um cão faminto supre a sua fome.

Hoje...
Pedi um abraço a uma mulher violentada,
daqueles em que tomamos a dor
de quem sofre por desamor.

Hoje...
Revivi o abraço de um filho partindo,
daqueles que a alma vai junto sem desabraçar.

Hoje...
Contei com um abraço de família,
daqueles que nos esperam,
independente da plataforma.

Hoje...
Escolhi um estranho e pedi-lhe um abraço,
daqueles que, se não fosse o meu impulso,
a vida não me facilitaria recebê-lo.

Hoje...
Plantei um abraço amigo, daqueles que,
independente da estação do ano,
brotam e nos permitem uma colheita
sem cobranças e prejuízos.

Hoje...
Quitei a dívida de um abraço romântico,
daqueles que, ao se despedirem,
deixam a conta parcelada,
mas a falência de emoções prometida... programada...

Hoje...
Consegui de mim um verdadeiro abraço,
daqueles que a maturidade nos reserva...
que reúne num só abraço sonhado
todos os abraços merecidos;
na falta de todos os abraços ignorados,
um único abraço compreendido.

Autoria: Ilka Vieira

4 comentários:

  1. Eu queria todos esses abraços, mas o seu me fortaleceria e muito! Belo poema, amiga Ilka!
    Beijos da amiga Hilda que te admira muito.

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  2. Eu amo esse poema, acho que Ilka Vieira desembarcou todos os seus sentimentos quando o compôs.
    Bjssssssssss
    Soraya Simões

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  3. Mesmo na falta de tantos abraços desejados, não te faltou o super abraço que te coloca de pé: o teu próprio!
    Lindo, lindo demais e contagiante de emoções.
    Bjus
    Raquel

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  4. Ilka, lamento conhecer você e seus poemas só agora, quando sei que está enferma e
    me disponho a orar por sua cura. Clamo por anjos poderosos que lhe dêem o mais
    precioso abraço, aquele que restaura a saúde do corpo, iluminando e aquecendo a alma.
    Ana Suzuki

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